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Grande intrevista

Bezegol? Mas porquê?! – questionou a Mai Magazine.

Adepto de qualquer género de música, praticamente desde que nasceu, Bezegol é um dos nomes que atrai muitos surfistas ao festival Surf at Night deste ano. Natural da cidade do Porto, o artista não se considera apenas um cantor de reggae, editando também outros géneros musicais. Fica a conhecer a história do artista que pisa pela terceira vez consecutiva o palco deste festival e que, no fim, ainda dedicou uma música à Mai Magazine.

 

Mai Magazine (MM): Porquê optar pela música e não por outra área?

Bezegol (BZ): Na verdade já fiz muita coisa e há muita coisa que eu continuo a fazer sem ser música. Gosto de música, desde que “me lembro que sou gente” e não vou estar com aquela conversa cliché de que ouvia muita música em casa quando era miúdo, até porque eu ouvia em quantidade normal, tal como as outras pessoas. No entanto, tinha sempre o vício de decorar a letra e, assim, fui desenvolvendo, gradualmente, um maior gosto pela música. Mas houve um ponto de viragem, representado pela primeira vez em que fui a um estúdio e comecei a produzir para o mundo, tornando-me, assim, num artista mais conhecido.

 

MM: Foi uma decisão apenas tua ou alguma pessoa, ou aspeto, influenciou a tua decisão?

BZ: Não, não. As coisas foram acontecendo de forma gradual. Lá está, não fui um dia para o estúdio e fiz um álbum, ou uma faixa. Comecei a tocar num clube, no Porto, em 1991 e, a partir daí fui “passar música” para outro clube e os convites começaram a surgir.

 

MM: Porque é que optaste pelo reggae e não outro estilo musical?

BZ: Eu não faço só reggae. As pessoas é que têm o hábito de me conotarem apenas ao reggae. Eu lembro-me que no início da minha carreira, antes de começar a editar álbuns, era conhecido como o DJ do Rap, pois era DJ de bandas de rap. Quando lancei o álbum e saíram faixas de reggae, começaram a caraterizar-me como artista de reggae. Para já, nunca gostei de ter rótulos, mas… talvez, agora esteja a escrever letras que se encaixam, melhor, na sonoridade do reggae. No entanto, nunca tive nenhum álbum de um único estilo musical… Acho até um pouco redutor conotarem-me apenas ao reggae, porque esforço-me para editar mais géneros.

 

MM: Se não estou em erro, a primeira música que ouvi da tua autoria foi um rap e passou na Sic Radical…

BZ: Sim, sim, exato! Um programa onde eu próprio fui mostrar uns vídeos. Aliás, o meu primeiro vídeo inicia-se com um rap e termina com o reggae. Foi no fim de 2006 que saiu o vídeo, e o álbum só saiu depois, em 2007. Lá está, não podemos fazer tudo ao mesmo tempo e não estamos a trabalhar com uma editora “grande”, embora esse nunca tenha sido o meu objetivo.

 

MM: Porquê?

BZ: É simples. Quanto mais uma pessoa estiver ligada ao mundo do negócio, mais contido se torna, pois é obrigado a justificar-se sobre certos aspetos. Por exemplo, ao que o mercado exige, ou ao número elevado de vendas que deve conseguir, e, principalmente, aos objetivos que a editora te exige cumprir e que se não os cumprires, infelizmente, deixa de apostar em ti (risos). Por tudo isto, sinto-me um felizardo por me editar a mim próprio.

 

MM: Como reagiste ao convite lançado pelo Surf At Night?

BZ: Sinceramente, eu já nem reagi (risos). Isto porque já é o terceiro ano. O primeiro ano que vim cá tocámos com um DJ e duas vozes. Foi brutal, mesmo ali ao lado da praia… era um sítio onde estava menos gente mas, mesmo assim, foi muito bom. O ano passado tive o prazer de vir com a banda. Lembro-me que não tínhamos bateria e, por isso, viemos com o DJ para lançar os beats. Um dos meus objetivos para este ano era, realmente, ter a banda completa, sem ter de depender de alguma máquina para apresentarmos o nosso som. Então, queria tornar isto tudo mais orgânico, no sentido de, se me apetecer tocar uma versão maior ou cantar mais uma vez o refrão, poder fazê-lo, sem qualquer restrição. Embora, friso que continuo a ter o maior respeito por todos aqueles que trabalharam comigo mas, sinto que agora estou a atingir o nível que tanto desejei, apesar de ainda querer aumentar o número de elementos da banda. Mas não podemos dar passos maiores que a perna.

 

MM: Costuma dizer-se que, por vezes, quanto mais subimos, maior é a queda…

BZ: Pois, ou então a subida é tão grande que nem chegas a mostrar o teu trabalho, porque colocaste-o num patamar tão elevado que ninguém o comprou! (risos) E isso acaba por não ser bom. E pronto, vir cá o terceiro ano… por um lado fico sempre contente por ir tocar seja onde for e, aqui, este ano, tirando a chuva e o vento, é com muito prazer que aqui venho. Primeiro, porque é Cortegaça e é perto do Porto. Logo sinto-me a tocar em casa. Segundo, o público tem-se demonstrado excelente. Terceiro, venho com uma formação completamente diferente. Os sons que já o ano passado tocámos, este ano vamos tocá-los novamente, mas de maneira diferente. Logo, tem tudo para correr na perfeição.

 

MM: O que pensas deste género de iniciativas?

BZ: Na minha opinião, são este género de iniciativas que fazem movimentar o underground de cá, sabes? Os grandes festivais só nos convidam quando já és demasiado conhecido e eles já não têm, quase, opção. Sinceramente, eu prefiro tocar num festival como o Surf At Night, não só pela organização, com quem já lidámos há tanto tempo. Não há festivais deste tamanho nas terras mais pequenas… só se fazem festivais de grande nome no Porto ou em Lisboa, quando muito no Alentejo, mas é na época de férias. Estes festivais são, por vezes, iniciativa de uma pessoa, que se esforça para conseguir apoios, entre todos os outros aspetos que um festival desta envergadura implica. É uma ótima oportunidade para bandas como nós, que não conseguem chegar a grandes palcos.

 

MM: Desejas, um dia, atuar num festival de renome?

BZ: Sou honesto: não tenho curiosidade em atuar em palcos como o do Rock in Rio porque, lá está, se nos convidassem era por já termos um grande reconhecimento no mercado, onde eu nunca quero estar… Além disso, passávamos a compactuar com situações que demonstram ser os “cancros” do país. Isto porque, muitas vezes, esses grandes festivais têm apoios do Estado e não pagam qualquer imposto, desfrutando de inúmeras regalias e, neste caso, o organizador tem que pagar tudo e, às tantas, ainda passa por aqui a ASAE para inspecionar vários aspetos. O problema é que estamos num país onde o Tony Carreira é o artista que mais vende, e ainda lançou os filhos, e tu, artista, tens de lutar contra isso. Assim, é de louvar que no país haja uma pessoa que lance um festival destes a pensar noutras bandas, mostrando ao público que existem outros artistas para além daqueles que são exibidos na televisão e na rádio, diariamente.

 

MM: No futuro, o que é que os fãs podem esperar do Bezegol?

BZ: Enquanto tiver capacidade física, vou produzir cada vez mais, porque é isso que quero e que me dá grande prazer. O que os fãs podem esperar é que os sons que saírem da minha autoria são sinceros e, quando estou a fazer algum som, esse é, sem dúvida, o melhor que já fiz.

 

MM: É cliché afirmar-se que os fãs são a base de todo o sucesso. Como reages ao contato com eles?

BZ: Oh, é tranquilo! Os fãs são pessoas como eu, pois também sou fã de muitas coisas. Então, sempre que alguém se dirige a mim, para me dar uma dica, ou tirar uma fotografia, é muito tranquilo. Aliás, se acontecesse o contrário, ou seja, se eles não me reconhecessem, era mau sinal. Por isso, venham eles, porque nós alimentamo-nos disso e, no dia em que não sentir esse afeto, será o dia em que deixarei de tocar…deixarei de ter objetivos. Enquanto eu sentir que eles nos acompanham, ‘tamos juntos!

 

MM: Já viveste alguma situação caricata, com um fã ou durante um concerto, que queiras partilhar?

BZ: Situações caricatas durante concertos… muitas mesmo, pois com elas até conseguia fazer um livro! Felizmente, nunca vi o meu nome envolvido em situações desagradáveis com fãs, nem com o público em geral. Agora, durante um concerto, já fiquei sem som, sem luzes, já me vi obrigado a cantar acapela para uma sala repleta. Tivemos de segurar a situação. E digo-te, foi brutal, porque o público estava disposto a cantar connosco. Pousei o microfone, expliquei que não havia som e disse: “Se quiserem, cantámos juntos”! E foi demais… 45 minutos praticamente sem som. Foi uma situação que nunca me vou esquecer e fiquei muito grato ao público, porque nunca nos deixaram “cair” e ninguém foi reclamar o dinheiro do bilhete (risos).

 

MM: A Mai Magazine assume-se como tua fã de primeira fila em todos os concertos! Que música lhe dedicarias?

BZ: Tenho que lhe dedicar a música que dedico a todos os meus fãs e que, ainda hoje, me emociona quando a canto. É o “Forever Love”. Já a escrevi em 2003, quando o meu filho era pequeno. O que eu sinto por ele é o que posso dedicar àqueles que me acompanham. Por isso, é mesmo forever love para todos e, claramente, para a Mai Magazine também!

 

MM: Para finalizar, uma pequena curiosidade. Porquê “Bezegol”?

BZ: O “bezegol” era uma palavra que se usava no calão antigo. No meu bairro, e em todos os bairros do Porto, “bezegol” era um calão para haxixe e funcionava como um código, isto é: “oh pá, tens bezegol?”. Eu era muito miúdo quando ouvia essa expressão, algo que eu nem sabia o que significava. Mas, por brincadeira, comecei a chamar “bezegol” a toda a gente! Ia na rua, passava por alguém e dizia “olha, tu és Bezegol”. Tinha uns 12 anos, era mesmo um garoto, e com o passar do tempo, no meu bairro, aparecia em qualquer lado e as pessoas diziam “olha, vem aí o Bezegol!”, que era o rapaz que chamava “bezegol” a toda a gente! A partir daí fiquei conhecido como Bezegol. Quando comecei a fazer música, todos me tratavam por Bezegol e nunca pelo meu verdadeiro nome. Aliás, tenho amigos chegados que me dizem “olha lá, como é que tu te chamas mesmo?!”, pois nem se lembram do meu nome. E assim ficou… Bezegol!

 

Reportagem – Ana Pinto

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